Por Kelly Lima, da equipe Alter
Um dia sim e outro também, há empresas anunciando suas metas de descarbonização. Mas ainda são medidas insuficientes, alerta a MSCI, empresa que analisou uma lista com mais de 9 mil companhias de capital aberto em 50 países. A conclusão é de que vamos estourar os limites das metas ambientais previstas no Acordo de Paris em no máximo seis anos.
Embora a lista de retardatários ambientais seja encabeçada principalmente por empresas estatais de capital aberto com sede na Índia ou na China, a análise também identifica deficiências entre líderes ambientais, como a AirBus, que relata apenas 3% de suas emissões.
Diante desse cenário, a Comissão Europeia acaba de anunciar um amplo pacote de projetos de legislação ambiental para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. A iniciativa tem como objetivo reduzir em 55% as emissões de gases de efeito estufa da economia da região até 2030, em relação aos níveis de 1990.
Polêmica com a taxação de carbono
Por trás dos lemas “Fit for 55” e “Green Deal” estão promessas chamativas, como a esperada decisão de proibir as vendas de novos carros com motor de combustão a partir de 2035. Entre as mais polêmicas está o mecanismo de ajuste de fronteira de carbono (CBAM), que consiste na taxação do carbono sobre produtos importados de setores altamente emissores, como eletricidade, cimento e aço, que não seguem os mesmos padrões de emissões das empresas do bloco.
A CBAM foi criada com o propósito de evitar a chama da “fuga de carbono”, ou seja, quando a indústria decide transferir sua produção para países com normas ambientais menos rigorosas. Embora tenha sido criada com a finalidade de proteger as empresas do bloco, o sistema de taxação recebeu críticas de setores que seriam supostamente beneficiados.
A associação setorial European Aluminium, que representa usinas e produtores e alumínio do continente, anunciou que a proposta do imposto alfandegário pode prejudicar seus membros, além de acelerar a fuga de carbono. O motivo seria a possibilidade de “reordenação de recursos” por parte de russos e chineses, ou seja, o redirecionamento da venda da produção de baixas emissões para a Europa enquanto vendem a mais poluente no resto do mundo.
O setor aéreo, por seu lado, é visado por um projeto de taxa de querosene para os voos intraeuropeus, com exceção dos aviões cargueiros e aviões privados, e as grandes empresas do continente europeu já denunciaram uma “distorção de concorrência” com o resto do globo.
Nova meta brasileira recebida com ressalvas
Durante a Cúpula do Clima, em abril, o presidente Jair Bolsonaro anunciou nova meta de descarbonização do Brasil, com neutralização até 2050, após críticas de diversos setores à Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) assumida pelo país no âmbito do Acordo de Paris. No documento, o Brasil havia se comprometido em zerar as emissões até 2060.
O presidente brasileiro se comprometeu ainda em eliminar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030, desde que haja a participação financeira de outros países, conforme proposta em carta enviada ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Saudada positivamente por Biden durante o encontro, o anúncio de Bolsonaro foi recebido com críticas por representantes do terceiro setor. A diretora de Clima do WRI no Brasil, Carolina Genin, avaliou como positivo o gesto do governo brasileiro, mas observou que a nova meta para 2050 precisa ser formalizada e submetida novamente à UNFCC em uma nova versão da NDC. Além disso, ainda é preciso detalhar o plano de ações.
As ressalvas são justificadas com fatos. A anos-luz das preocupações dos deputados europeus com as emissões de carbono, vemos o Pantanal voltar a queimar ferozmente, um ano depois ter um quinto de seu território perdido. Cássio Bernardino, coordenador de Projetos do WWF Brasil, acredita que para além de queimadas criminosas, já é possível observar efeitos das mudanças climáticas no bioma e a expectativa é de que a seca no Pantanal perdure.