O que temos a ver com o hidrogênio verde?

O hidrogênio verde se regere ao hidrogênio obtido por eletrólise da água e utilizado como fonte renovável de energia.

Considerado por especialistas como o combustível do futuro, o hidrogênio verde é um termo utilizado para se referir ao hidrogênio obtido por eletrólise da água e utilizado como fonte renovável de energia.  

 

Por Elizabeth Boas, da Equipe Alter

O hidrogênio verde adquiriu relevância a partir da Cúpula do Clima, evento organizado em abril pelo governo americano para debater ações governamentais no combate ao aquecimento global. O combustível surge como um potencial elo da transição energética para uma matriz mais sustentável.  Além dos EUA, o plano europeu de recuperação pós-pandemia estabeleceu o desenvolvimento de tecnologia para o uso de hidrogênio para geração de energia como uma de suas prioridades no esforço de neutralização das emissões da União Europeia até 2050.

Considerado o combustível do futuro por especialistas, o hidrogênio verde é um termo utilizado para se referir ao hidrogênio obtido por eletrólise da água a partir de fontes renováveis. O hidrogênio produzido com eletricidade renovável pode competir em custos com os combustíveis fósseis até 2030. A conclusão é de relatório divulgado pela IRENA (Agência Internacional de Energia Renovável, na sigla em inglês). A combinação de preços decrescentes para energia solar e eólica com economias de escala com eletrolisadores pode aumentar a competitividade relativa do hidrogênio verde, gerando oportunidades e desafios.

Esse mercado deverá atingir globalmente US$ 2,5 trilhões em 2050, respondendo por cerca de 20% de toda a demanda de energia no mundo, conforme estimativas do Hydrogen Council. O Brasil, com uma matriz energética composta por 80% de fontes renováveis, tem a oportunidade de ser um importante protagonista nessa matéria, já que o hidrogênio verde pode ser obtido da gaseificação da biomassa, em abundância no País, ou da reforma ou pirólise do biogás.

Hidrogênio verde e as oportunidades e riscos para o Brasil

Mas quais são os caminhos e perigos para esse combustível no Brasil? Quais cuidados são necessários para que o país não se engaje em um processo que possa gerar mais desigualdades e conflitos de acesso a recursos naturais?

No Brasil, são destacadas três oportunidades relacionadas a aplicações do hidrogênio verde, levando em conta os diferenciais competitivos do país:

  • Uso na redução direta do minério de ferro para produção de aço de baixo carbono, produto para o qual se estima uma demanda mundial crescente
  • Produção de substitutos sintéticos para petroquímicos e combustíveis, especialmente para a aviação e transporte marítimo – setores de difícil eletrificação
  • Produção de amônia, que pode assumir um papel importante no transporte e na difusão do hidrogênio em seus usos como energético

De acordo com Emilio Matsumura, diretor-executivo do Instituto E+ Transição Energética, autor do estudo  Oportunidades para o Brasil com o hidrogênio verde, em parceria com a Fundação Heinrich Böll, embora os custos desse processo ainda sejam altos, a perspectiva de maiores quedas dos custos da geração elétrica renovável nos próximos anos levará à maior competitividade do hidrogênio verde no futuro, afirma o executivo.

Porém, da mesma forma que gera oportunidades, o hidrogênio verde também apresenta desafios e questionamentos sobre possíveis impactos ambientais e sociais. O alto consumo de água para a eletrólise é um exemplo. É preciso de cerca de 9 litros de água doce para produzir 1 kg de hidrogênio (e 8 kg de oxigênio).

“Em um país onde a distribuição e o acesso à água potável e ao saneamento ainda são desiguais, é preciso ter cuidado quanto a propostas que gerem ainda mais pressão sobre os recursos hídricos do país, para que não acentue o crescimento da apropriação privada da água como mercadoria, que geraria conflitos pelo uso da água e a mercantilização de um bem comum”, afirma o coordenador do programa de Justiça Socioambiental da Fundação Heinrich Böll no Brasil, Marcelo Montenegro.

Por ser uma questão emergente dentro do cenário nacional, é necessário o fortalecimento de um debate amplo com a sociedade civil, para levantar questionamentos e apontar direções que busquem alinhar as expectativas da adoção do hidrogênio verde no Brasil com o respeito e garantia da proteção dos direitos socioambientais da população brasileira. A participação e diálogo da sociedade civil é fundamental para a construção e a implementação de qualquer estratégia de descarbonização de matrizes energética.

Webinar sobre hidrogênio verde

Visando a amplificação do debate sobre o tema para um público mais amplo, a Alter organizou para a Fundação Heinrich Böll o Webinar “Desafios e oportunidades para o Brasil com o Hidrogênio Verde”, realizado em 24 de maio, que abordou os riscos e possibilidades do uso dessa fonte energética no o Brasil. O evento contou com o lançamento do estudo e também de outros materiais que trarão visões sobre o tema a partir de diferentes perspectivas. Para se inscrever, basta acessar aqui.

O Webinar teve abertura da coordenadora de Programas e Projetos da Fundação Heinrich Böll, Marilene de Paula. O painel contou com participações do chefe da divisão de Política Internacional da Fundação Heinrich Böll na Alemanda, Jörg Hass; do diretor executivo do Instituto E+ Transição Energética, Emílio Matsumura; do coordenador executivo da Frente por uma Nova Política Energética para o Brasil, Joilson Costa; e moderação da jornalista Giovana Girardi.

 

Escreva um comentário