Pessoas que possuem vínculos empregatícios e/ou operacionais com empresas e organizações acabam, muitas vezes, por representá-las sob o olhar público. Esse entendimento se intensifica quando falamos de quem atua como porta-voz institucional. Essas figuras tornam-se a “cara” da instituição, órgão ou entidade que representam – ganham corpo humano e falam em nome da organização. É nesse contexto que o media training inclusivo se apresenta como uma ferramenta estratégica fundamental. Ele não apenas prepara porta-vozes para lidar com a imprensa, mas também fortalece o posicionamento e a reputação da organização diante da sociedade.
Comunicação eficaz e inclusiva: um diferencial necessário
Além de treinar porta-vozes para responder às perguntas de jornalistas com clareza e transmitir as mensagens-chave da instituição, é essencial que essa comunicação seja feita de forma respeitosa, sensível e eficaz com públicos diversos.
Essa abordagem fortalece a imagem institucional e constrói conexões autênticas com diferentes setores da sociedade. Para isso, torna-se indispensável desenvolver uma comunicação inclusiva, com linguagem e atitudes que promovam igualdade, equidade e evitem a exclusão com base em gênero, raça, etnia, orientação sexual, idade, deficiência ou qualquer outra característica pessoal.
O impacto de cada palavra dita por um porta-voz
Para quem ocupa esse papel, cada palavra tem peso — seja em redes sociais, entrevistas ou coletivas de imprensa. O impacto pode ser positivo ou negativo, e por isso é essencial que o media training inclusivo contemple temas como Diversidade & Inclusão (D&I) e empatia.
Esse tipo de preparação deve abordar três pilares principais:
1. Conhecimento sobre inclusão
É fundamental que os porta-vozes compreendam os desafios enfrentados por diferentes grupos sociais. Isso inclui o uso correto de pronomes, a familiaridade com terminologias atuais e a capacidade de reconhecer vieses inconscientes.
Quem representa uma organização não pode demonstrar constrangimento ou reprovação ao abordar temas ligados à diversidade – seja com membros da própria equipe, autoridades públicas ou representantes da sociedade civil.
2. Prática de linguagem inclusiva
O uso de uma linguagem que evite generalizações e estereótipos é indispensável. A ausência de letramento adequado pode causar danos reputacionais profundos. Simulações práticas são recursos eficazes para moldar mensagens mais positivas, empáticas e acolhedoras.
Expressões como “desenvolvedores e desenvolvedoras” mostram atenção à diversidade de gênero. O mesmo vale para o uso de nomes sociais e para o respeito às variadas identidades de gênero e orientação sexual, especialmente da população LGBTQIAPN+.
No campo racial, é importante utilizar termos como “pessoas negras”, “pardas”, “pretas”, “populações indígenas”, “pessoas brancas”, entre outros, conforme o contexto da pauta. Evitar a menção correta de “pessoas negras”, por exemplo, pode soar como apagamento dessas identidades – mesmo que não haja intenção ofensiva.
📌 Exemplos práticos de linguagem inclusiva no media training:
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Prefira “colaboradores e colaboradoras” em vez de termos neutros ou genéricos;
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Use nomes sociais conforme indicado pela própria pessoa;
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Evite piadas, termos ou expressões com conotação preconceituosa;
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Trate a diversidade racial com naturalidade, sem eufemismos;
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Respeite diferenças culturais em contextos internacionais.
3. Empatia na comunicação
A empatia deve nortear toda a interação pública. Não se trata apenas de “o que dizer”, mas também “como dizer”. A maneira como uma mensagem é transmitida pode conectar ou afastar o público.
Porta-vozes empáticos valorizam as perspectivas e sentimentos do público, promovendo um diálogo mais verdadeiro e respeitoso.
Diversidade na prática: exemplos que fazem a diferença
Situações simples ilustram a importância desses cuidados. Ao abordar diversidade de gênero, por exemplo, é preferível utilizar termos que incluam diferentes identidades. Também é fundamental respeitar nomes sociais e evitar piadas ou comentários depreciativos sobre características físicas ou culturais, especialmente em contextos internacionais. Termos ou atitudes lidos como preconceituosos podem ter repercussões graves.
Esses exemplos mostram como o media training inclusivo pode integrar técnicas tradicionais de comunicação com orientações de especialistas em Diversidade e Inclusão – resultando em uma formação mais completa e alinhada com as expectativas da sociedade contemporânea.
D&I no media training: uma estratégia de imagem
Cabe às organizações entender que um media training inclusivo é parte da estratégia de reputação e imagem no cenário atual. Quem representa uma empresa, marca ou instituição pública precisa estar preparado para comunicar com responsabilidade.
A imagem pública é um ativo valioso. E, para que a comunicação seja realmente eficaz, ela precisa reconhecer e valorizar a diversidade como um valor genuíno – gerando impacto positivo e construindo confiança duradoura junto aos diferentes públicos.
Por Glauco Figueiredo