Déficit habitacional no Brasil alcança números alarmantes

Déficit habitacional no Brasil alcança números alarmantes

O novo boletim da Campanha Nacional Despejo Zero traz números alarmantes sobre o déficit habitacional no país. O contingente de pessoas ameaçadas de despejo é 485% maior comparado a agosto de 2020. São Paulo (36.883), Amazonas (19.173) e Pernambuco (9.299) são os estados onde mais famílias estão ameaçadas. São 91.305 famílias que vivem sob a ameaça de despejo.

 

O número de famílias despejadas também aumentou 340% o número de famílias despejadas no Brasil no mesmo período. Enquanto até agosto de 2020, 6.373 famílias tinham sido despejadas, em agosto de 2021 o total já ultrapassa 21.725 famílias. Os dados incluem sem teto, sem-terra, locatários e famílias que vivem em comunidades há décadas, que são removidas de suas moradias

 

A Campanha Nacional Despejo Zero é uma articulação que reúne mais de 100 organizações, entidades, movimentos sociais e coletivos para atuar contra os despejos e remoções de famílias do seu local de moradia. A iniciativa foi lançada em julho de 2020, durante a pandemia da Covid-19, e aborda um problema estrutural das cidades brasileiras: a falta de moradia adequada para todos.

 

“Num momento de pandemia como esse que a gente vive, momento que é de exceção, de buscar soluções, inclusive emergenciais, a gente entende que o direito à moradia tem que ser assegurado”, disse ao Jornal Nacional Socorro Leite, diretora-executiva da Habitat Brasil, cliente da Alter, que integra a Campanha Nacional Despejo Zero.

 

Os dados divulgados pela iniciativa também receberam destaque no programa GloboNews em Pauta. “A percepção de todos nós, de quem circula pelas metrópoles brasileiras, é de um aumento muito grande do número de pessoas morando na rua. Inclusive de famílias inteiras, o que é um perfil novo de pessoas em situação de rua. E isso tem uma relação muito forte com essa crise do desemprego”, comentou a jornalista Flávia Oliveira.

Déficit habitacional de 6 milhões de moradias

O país tem um déficit habitacional de 6 milhões de moradias e cerca de 25 milhões de residências inadequadas, segundo a Fundação João Pinheiro. São milhões de brasileiros que convivem com a rotina de uma casa precária, sem meios dignos de habitar. E a situação é ainda mais crítica para as mulheres, principalmente as chefes de família. Elas representam 60% da população vivendo em residências inadequadas.

 

Segundo dados do IPEA, 88% das famílias que compõem o déficit habitacional brasileiro têm renda familiar de até três salários-mínimos. Os trabalhadores de menor renda foram precisamente os mais atingidos com as consequências da Covid-19, sofrendo com o rebaixamento salarial e a perda de emprego, situação especialmente pior entre mulheres, negros e jovens.

 

“Uma moradia digna é a porta de entrada para uma série de outros direitos, como saúde, educação e segurança. Em plena pandemia, milhares de pessoas estão ameaçadas de serem alijadas de um direito básico e constitucional. É fundamental pensar políticas que resolvam os problemas habitacionais, principalmente focado em investimentos para construção de moradias para as classes mais desfavorecidas”, defende Socorro Leite. 

Atuação contra o despejo

A campanha tem atuado fortemente para impedir ações de despejos em todos estados brasileiros, tendo êxito em ações que ajudaram 8.508 famílias, até julho último. O contexto ainda é agravado com a pandemia, que aprofundou as desigualdades existentes no Brasil.

 

A situação fica ainda mais drástica com a decisão do Presidente da República, Jair Bolsonaro, que vetou o projeto de lei 827/2020, que suspendia os despejos até dezembro de 2021.  O referido PL, fruto da mobilização de dezenas de entidades e movimentos, passou por discussão e aprovação no Congresso Nacional, com apoio de partidos de diversos campos políticos, mas não foi sancionado. 

 

“O Brasil vive uma tragédia com quase 600 mil mortes devido à pandemia, além de dados alarmantes com o crescimento da miséria, do desemprego e do subemprego. Esse cenário fomenta as ocupações nos centros urbanos de áreas que não cumprem sua função social e isso agravou o cenário de despejos, além de aumentar o número da população em situação de rua”, explica Benedito Roberto Barbosa, advogado popular do Centro Gaspar Garcia e integrante da Campanha Despejo Zero.

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