Mudanças climáticas e as chuvas no Brasil

Mudanças climáticas e as chuvas no Brasil

São as águas de março que costumam fechar o verão, mas as mudanças climáticas podem ser a explicação para as fortes chuvas que iniciaram a estação e encerraram o ano de 2021 com incontáveis vítimas nos estados de Minas Gerais e Bahia. De acordo com dados mais recentes, a Bahia teve 199 cidades atingidas e mais de 900 mil pessoas prejudicadas, enquanto 341 cidades de Minas Gerais foram impactadas, causando 25 mortes durante todo período chuvoso, além de deixar mais de 46 mil pessoas desabrigadas.

Outro número impressiona: de acordo com os governadores dos respectivos estados, para a recuperação das áreas atingidas, serão necessários cerca de R$ 2,5 bilhões, entre reconstrução de casas, vias de acesso e estruturas públicas.

Mudanças climáticas e eventos extremos

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) aponta a influência de diversos fatores sobre a tradicional Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), sendo um dos principais sistemas meteorológicos responsáveis pela reposição hídrica em parte do Brasil no período chuvoso. Ainda que seja comum que chova em algumas regiões do país durante os meses de dezembro e janeiro, é possível notar o aumento do volume pluviométrico. E esse fato pode ser explicado pelas mudanças climáticas.

O Relatório de Riscos Globais 2022 (Global Risks Report 2022), produzido pelo Fórum Econômico Mundial, recentemente, divulgou os resultados da Pesquisa de Percepção de Riscos Globais (GRPS), onde o clima extremo aparece na segunda posição – perdendo apenas para a falta de ação climática. Ou seja, o documento indica que a mudança climática já se manifesta rapidamente sob a forma de secas, incêndios, inundações, escassez de recursos e perda de espécies, entre outros impactos – como pode ser percebido desastres causados pelas chuvas intensas na Bahia e em Minas Gerais.

Os cientistas climáticos que ajudam na elaboração do Painel Intragovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) concordam que as mais recentes alterações do clima, em comparação com o período pré-industrial, foram causadas pela ação da humanidade com a alta emissão de gases de efeito estufa, responsável pelo aumento da temperatura média global, que ocasiona os eventos extremos.

Os impactos das mudanças climáticas

Fora os impactos diretos, como perda de moradia, destruição de estradas, perda da biodiversidade local, os impactos indiretos das mudanças climáticas elevam tanto o custo de adaptação quanto as diferenças sociais e a sobrecarga de outros setores públicos. Quando um orçamento é reorganizado para atender essas urgências, deixa-se de investir em outro setor, como saúde, cultura ou educação. Dessa forma, pessoas que já viviam em situação de vulnerabilidade, ficam em uma situação ainda mais precária e mais suscetíveis a doenças, sobrecarregando o sistema de saúde.

A alteração e a destruição dos habitats provocam milhares de prejuízos. A perda de biodiversidade coloca em perigo o bem-estar do ser humano ao afetar o solo e a água, fundamentais para alimentação. Os desequilíbrios nos ecossistemas podem provocar o surgimento de pragas que prejudiquem colheitas e pastagem.  Como consequência, a escassez de alimentos eleva preços e indicadores de desnutrição.

A 26ª Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que reuniu em novembro líderes mundiais para tratar sobre as questões relacionadas ao tema, resultou em novos compromissos, como o desmatamento ilegal zero e a redução de emissão do metano. Especialistas afirmam, contudo, que a ausência de ação climática rigorosa torna o compromisso de manter a temperatura em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, cada vez mais difícil, e que isso aumenta os riscos relacionados a uma transição climática desordenada.

Empresas, sociedade e governo têm a responsabilidade de cumprir com sua parte para evitar que cenas recentes de destruição, seja no Brasil ou no mundo, se repitam. Mais do que reparar os prejuízos causados, é preciso prevenção aos riscos. O custo de manter os braços cruzados, ou fazer menos do que se deve, vai ser extremamente custoso a todos.

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